a.k.a.一輝!! – Edição 1655

oje não é quarta, mas teve futebol. Hoje não é domingo, mas teve eleição no horário nobre da TV. E quis o destino – e uma coisa chamada guerra pela audiência – que tudo caísse no mesmo dia e horário. Ao mesmo tempo em que Inter e São Paulo jogavam suas vidas e técnicos na Libertadores, a TV Bandeirantes exibia um debate com os quatro principais candidatos à presidência desta pátria que nos pariu: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Entre gritos de gol e piadas no Twitter com relação ao visual de cada um, tentei fazer uma análise dos discursos apresentados (ou não). Taca aí, Creuzebek!

Os 4 presidenciáveis ‘joão-sem-braço’

Nunca antes na história deste país tivemos uma eleição tão grande, tão endinheirada, tão comentada e tão twittada. Na primeira eleição desde 1989 sem Lula na disputa, três novos candidatos – Serra foi o único a concorrer antes, em 2002 – se apresentaram para o público. Mediado por Ricardo Boechat, o encontro foi inaugurado por imagens da Orquestra Bachiana Filarmônica do Sesi-SP tocando o tema da Band nas eleições. Dilma veio, como esperado, pra apresentar o que Lula fez e pregar o discurso de continuar a gestão do presidente mais popular dos últimos tempos da última semana. Serra trouxe na bagagem as realizações de seu governo na prefeitura e no estado de São Paulo. Marina, por sua vez, os 16 anos de Senado pelo Acre. E Plínio… Plínio quem, mesmo? Por incrível que pareça, o discurso do socialista era esse mesmo. Dizer que era um novo candidato, desconhecido por culpa da grande mídia – a culpa sempre cai na imprensa, né? – e que haviam outros candidatos por aí.

De fato, há outros mesmo. Completam a lista Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB), Rui Costa Pimenta (PCO) e Zé Maria (PSTU). São nove ao todo, mas a Band – totalmente dentro da Lei eleitoral – só chamou aqueles com 1 ponto ou mais nas pesquisas, e que têm presença no Congresso Nacional. Isso irritou os demais pequenos. Foi até o assunto da minha conversa com um dos presidenciáveis, o candidato do PRTB, Levy Fidelix (aquele do trem-bala):

O presidenciável Levy Fidelix dando trela para este narigudo
O presidenciável Levy Fidelix dando trela para este narigudo

Era só o começo. Além do “bom-mocismo” – neologismo criado por Plínio – os candidatos se mostraram muito empacotados. Discursos muito ensaiados – os de Dilma, nem tanto – e a vontade de convencer o eleitor de cara. O debate teve um tom de “vota em mim que eu sou coitadinho”. Cada um tinha sua história triste, de como a vida é dura e que merecia um voto pra realizar sonhos. Dilma parecia confusa e nervosa no seu début em debates, ainda mais sendo confrontada logo no começo com Serra. E assim foi nos 4 primeiros blocos: bipolarização de perguntas e respostas entre Dilma-Serra e Marina-Plínio. Serra polemizou ao dizer que vai criar mais um ministério, o da Segurança. Dilma preferiu prometer 500 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), policlínicas e até UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em favelas. Marina tocou em “visão estratégica” nos tópicos, e Plínio pregava igualdade de terras, não à anistia de desmatadores e distribuição de renda igualitária. Com bom-humor, chamou Serra de “hipocondríaco” – “ele só fala de saúde” – e Marina, de “ecocapitalista”.

Até os dois primeiros blocos, Plínio vencia o debate de longe. Deixou o tucano bater na petista e vice-versa sobre investimentos para entidades como a APAE e Marina correndo por fora. Mas ele endureceu o tom das críticas e se mostrou fortemente a favor de invasões de propriedades por “movimentos sociais” como o MST. Ou seja: a favor de toda a baderna provocada pelos bandidos disfarçados de agricultores familiares sem-teto. Plínio não soube separar o socialismo pregado por seu partido da quase anarquia que o MST e outras facções criminosas adoram pra destruir fazendas, matar pessoas e depois dizer que as terras eram improdutivas e são de posse do povo. Calma aí que eu ainda não tô morto! Ser do povo é uma coisa, usurpar propriedade privada e causar terror supostamente em nome do povo é outra, bem diferente.

E foi aí que Plínio caiu no meu conceito. Apesar de ter subido ao topo do Trending Topics Brasil já no começo do debate, decaiu no discurso e passou a mostrar um desespero, com frases de efeito e insinuações de que estaria sendo excluído do debate. Marina ficou em cima do muro na maior parte, com ar conciliador. Mas nas considerações finais, a candidata, que era analfabeta até os 16 anos, lembrou que passou fome e veio dos rincões do Acre – piadinhas à parte. Disse estar pronta pra ser a primeira mulher presidente, e só faltou dizer que era a vez da mulher negra, no estilo Obama – que ela fez questão de adotar. Serra encerrou falando de família, e Dilma, lógico, elogiou Lula e falou em realização de sonhos. Pra mim faltou tempero: foram poucos os momentos de real confronto, e um sexto bloco com perguntas vindas da internet não faria nada mal. Pra resumir: faltou o “ey-ey-Eymael, um democrata cristão” e pronto!

A campanha eleitoral começou de vez. Mas se você prefere falar das orelhas grandes de um candidato, de quem a outra parece, da testa do outro ou da sobrancelha da outra, guarde pra você. Não twitte, não exponha essas asneiras na mesa de bar e muito menos comente na urna. Se for pra fazer isso, na hora do próximo debate prefira assistir o futebol. O Brasil agradece!

“Urna não é pinico. Veja bem a merda que você vai fazer em outubro!”

Fausto Silva, apresentador e grande filósofo, tanto no pessoal quanto no profissional

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Comments (3)

  1. Com que base vc fala “MST. Ou seja: a favor de toda a baderna provocada pelos bandidos disfarçados de agricultores familiares sem-teto” ???
    Já esteve em algum acampamento do Movimento? Já conversou com essas famílias? Sua família deve ter fazenda, ou pelo menos, grandes pedaços de terra. Começou bem com sua análise, mas essa afirmação sem fundamento, ou melhor, com fundamento pelo o que você vê na TV deixou a credibilidade a desejar.

    1. Obrigado Suri, pela visita e comentário. Não, minha família não tem qualquer fazenda, sítio, chácara, posse, puxadinho nem qualquer terreno em seus respectivos nomes que não suas casas. Muito mal minha mãe tem carro, popular e com quase 10 anos de uso. Uma rápida historinha: tenho dois tios fortemente envolvidos com política: uma filiada ao PT e um filiado ao PMDB. Eu adoro política, mas por questões éticas e profissionais, não sou filiado a nenhum partido. Não é preciso estar em acampamentos do MST para saber o que acontece neles, e muito menos é preciso vê-los na TV: aqui mesmo, no Rio, vi o condomínio de casas populares onde meu pai mora ter residências fechadas, à espera de que seus donos consigam alugá-las, serem invadidas pelo dito Movimento dos Sem-Terra.
      Para estes, a invasão se tornou profissão, tanto que quando questionados de estarem ali ilegalmente, já sabiam que se não saíssem ou fossem retirados em 72 horas, tinham o direito de só sair mediante ação de reintegração de posse na Justiça. É esse o Brasil que a gente quer? De baderna, de “vou invadir mesmo e foda-se o quanto você ralou”? Pelo menos não é o que eu quero, e não é o que reza a Lei. Você mesmo diz que a TV já denunciou invasões tenebrosas do MST e outros ditos movimentos sociais. Lembro de uma reportagem do Jornal Nacional mostrando militantes destruindo plantações da fazenda que iam desocupar. As imagens não mentem… Me diz se isso é certo e depois volte pra dialogar.

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