Edição 2126 – Encalhado no camelô!

(por Rodrigo Vilela)

Demorou, mas resolvi escrever sobre Carnaval. Mais precisamente, claro, sobre sambas de enredo e as piores safras da história. Foi o gancho que escolhi para falar das obras que embalarão os desfiles deste ano.

E já serei polêmico: a safra deste ano é mediana. Nada se compara a alguns anos que relembrarei abaixo. Mas fica devendo, em um geral.

Eu analiso uma safra de samba assim: uma “equação” entre sambas muito bons (acima de nota 9, que ao cantar, fazem arrepiar os pelos ou acelerar o coração) e sambas tenebrosos (abaixo de 6, aqueles que não dá pra decorar e que o dedo já vai no SKIP ao ouvir o CD).

E sei que discordarão bastante de mim. Mas tentarei explicar. Ah! Não incluo as regravações na análise.

Os anos de 2009 e 1997 são hours-concours.

Em 2009, último ano de gravação em estúdio, os melhores foram, pra mim, Grande Rio e Portela – e não passam de sambas bons. E, inteiro, além dos dois citados, eu só sei a porcaria do samba do Salgueiro – só a melodia – e da Mocidade – idem. O resto, necas!!

Vão vendo; nem decorar as dragas dos sambas eu consegui!!!

Em 1997 tivemos Mocidade, Porto da Pedra e Grande Rio (embora eu goste das obras do Império Serrano e da Estácio). Só que as porcarias foram recordes: Salgueiro, Viradouro, Portela, Beija-Flor, Santa Cruz, Unidos da Tijuca, União da Ilha, Mangueira e Rocinha. Todos deploráveis.

Um ano que muitos citaram em conversas pelas minhas redes sociais na lista de piores safras e que eu discordo completamente é o de 1999. A grande maioria é muito bom (Mangueira, Beija-Flor, Mocidade e Caprichosos), além dos aceitáveis sambas da Portela (a voz do Rogerinho foi que afundou a gravação), Viradouro e Vila Isabel. De tragédia, mesmo, só Tradição e Grande Rio.

Lembremos, então, de algumas safras deste século.

A de 2000 foi bem triste mais por causa da limitação aos 500 anos do Brasil – todas as escolas precisaram falar sobre o tema. Muitas porcarias surgiram, mas pelo menos temos os aceitáveis sambas da Imperatriz e da Unidos da Tijuca pra aliviar um pouco, além do felicíssimo samba da Vila Isabel. E a maioria não irrita ao ouvir. São somente soníferos, os “prediletos” dos anos 2000.

O ano de 2001 foi parecido com estilos dos anos 70, guardadas as proporções: os maravilhosos sambas da Paraíso do Tuiuti e da Beija-Flor, os bons sambas da Viradouro, da Mangueira e da Caprichosos, o mais-que-conhecido samba da Tradição e as corretas obras de Salgueiro, Unidos da Tijuca e Império Serrano. De ruim, mesmo, só o da Imperatriz – se for bem exigente, dá pra colocar Portela e Grande Rio nessa lista, se bem que eu adoro o samba da “21 vezes campeã do Carnaval…”.

Um ano bastante ruim é o de 2002. Só me agradou, de verdade, o da Porto da Pedra, além dos bons/razoáveis sambas da Mangueira e da Portela. Também teve muita porcaria: Salgueiro, Grande Rio, Tradição e Caprichosos foram de doer.

Pensei aqui no de 2003. Sambas maravilhosos (Mangueira e Unidos da Tijuca), bons (Grande Rio, Viradouro e Portela) e porcarias (Mocidade, Caprichosos, Porto da Pedra, Império Serrano e Tradição). Só que estas porcarias são MUITO porcarias.

Lembremos 2004. Entre os inéditos, só se salvam Beija-Flor e, com muita boa vontade, Imperatriz e Unidos da Tijuca. O resto pode jogar na lata do lixo, especialmente Grande Rio, Mocidade, Porto da Pedra e Caprichosos. Safra que só não é esquecível por conta das regravações, mas como eu disse, a análise vai para os sambas inéditos.

Vejamos 2005. Os insuportáveis são, pra mim, Salgueiro, Viradouro, Caprichosos e Grande Rio – milagre, não pus a Tradição. Só que os bons são, somente, Beija-Flor e Imperatriz. Com boa vontade, Unidos da Tijuca. O resto é – como eu cito o maior problema dos anos 2000 – insosso. Em particular, eu adoro a melodia do samba do Império Serrano, mas sei que eu sou um os únicos a achar isso!

Vamos à 2006. Os lixos ficam com Caprichosos e Vila Isabel, tendo Unidos da Tijuca e Rocinha de perto. O da Porto da Pedra divide opiniões – eu adoro, tanto o samba quanto a cadência imposta no CD. Mas tem, pra mim, os maravilhosos sambas da Portela, Viradouro e, especialmente, Império Serrano e Mangueira. Não dá pra ignorar esses quatro. Pela safra ser, em geral, parecida com a deste ano, não posso coloca-la entre as piores.

Em 2007, de excepcional, só teve o da Porto da Pedra e Mangueira. De bom, teve o da Portela – com muito bom humor incluo o da Beija-Flor. O resto é de aceitável pra baixo – não me falem em Candaces; não consigo gostar de maneira nenhuma. Entra na minha lista!!

Pelas redes sociais, lembraram de 2008. Vejamos minha equação: de ótimo tem Porto da Pedra e Imperatriz. Aceitáveis (ouvíveis) tem Mocidade, Portela e Grande Rio. De terrível? Beija-Flor (plágio na cara dura), Viradouro, Vila Isabel e Salgueiro. Talvez apareça no meu top-“menos”-5.

Em 2010, os negativos ficaram com Viradouro, Portela e Porto da Pedra. Mas, apesar da gravação ser horrenda, é uma safra muito boa: Vila Isabel e Imperatriz como antológicos; Beija-Flor sendo muito bom; Mangueira sendo bom, Salgueiro, Unidos da Tijuca e União da Ilha sendo corretos e o da Mocidade, animadíssima. Até o da Grande Rio, com letra sofrível, é gostoso de cantar.

Podemos lembrar de 2011, também. Mas é por pouco. Na comparação com 2004, por exemplo, tem mais sambas ouvíveis (Grande Rio, Beija-Flor, Vila Isabel e Salgueiro) além dos ótimos da Mangueira, Imperatriz e Porto da Pedra. O que estragou o CD foi a aceleração quase automobilística nos sambas – aliás, uma constante nesse estilo terrível de gravação na Cidade do Samba, que é o utilizado desde 2010. Uma tragédia!

Depois disso, as safras melhoraram muito, inclusive trazendo alguns sambas antológicos. Os destaques gerais vão para Portela, Beija-Flor e Vila Isabel em 2012; Vila Isabel, Portela e Imperatriz em 2013; Portela, Salgueiro e Mocidade em 2014; Imperatriz, Beija-Flor, Mangueira e Portela em 2015.

Voltando muito no tempo, tinha muita porcaria, só que os bons eram antológicos, o que compensavam as safras. A exceção é de 1973, onde só teve o samba da Em Cima da Hora como um ótimo samba. A única safra terrível dos anos 70 e 80 não poderia ficar de fora da minha lista particular.

Bom, minha lista dos piores, desde que o primeiro disco foi lançado, em 1968, fica então com: 1997, 2009, 1973, 2002 e 2007. Os dois últimos, em acirrada disputa com 2000, 2003, 2004, 2005 e 2008.

E em 2016??

Bom, temos seis sambas que se destacam na bolacha digital, com quatro atingindo status de ótimo. Se o Salgueiro não me convenceu por completo e a Vila Isabel assassinou a obra original, deixando o samba apenas bom, podemos afirmar que Mangueira, Unidos da Tijuca, Imperatriz e Portela – nesta ordem – lutarão pelo Estandarte de Ouro.

Nenhum desses tem, por enquanto, condições de se tornar eterno. Mas representa um alento, perto das temerosidades que citei antes. Muito depende de como eles se sairão na Sapucaí.

Os outros seis sambas são fracos demais. Beija-Flor e Grande Rio beiram o insuportável; União da Ilha e Estácio dão sono; São Clemente e Mocidade são feitos só pra tocarem no desfile.

No Acesso, deixemos de lado a medonha – pra ser bonzinho – gravação do CD. Viradouro, Renascer e Alegria da Zona Sul são muito bons; ótimos; excelentes. O do Império Serrano fica perto desses. Em São Paulo, não teve nem graça. Uma safra bem fraca que tem no samba da Unidos do Peruche o destaque absoluto – com quilômetros de distância para os outros. O da Mocidade Alegre gera discussão, mas eu gostei.

E assim as escolas apresentaram seus hinos para este ano. Lutando cada vez mais contra a “padronização” de estilos, os amantes do samba alimentam, ano após ano, as esperanças de melhoria.

Só melhorar um pouco. Em sã consciência, ninguém espera ver nada do quilate de “Os sertões”, “Heróis da liberdade”, “Kizomba” e outros que transcendem as décadas.

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